Lá pelos séculos XIV e XV, o Homem começou a redescobrir-se. Houve uma explosão de produção em todos os níveis de expressão humana, como as artes em geral e a filosofia. Estas manifestações artísticas e filosóficas realizaram um resgate de antigos ideais clássicos que se obscureceram durante o período medieval; de modo que este novo período que emergia passou a chamar-se de Renascimento.
A filosofia deste período voltou-se contra os limites que a Igreja havia criado ao pensamento crítico durante o período medieval. Temas terminantemente restritos por causa de certos preceitos pagãos, como a astrologia, a alquimia, a magia, a natureza, a astronomia, a fisiologia, além de outros, tornaram-se os preferidos pelos filósofos do renascimento. Eram tão diversos os temas e se espalhavam de maneira tão abrangente sobre o pensamento, que alguns filósofos até se arriscavam às primeiras tentativas de um conhecimento prático, como foi o caso de Galileu, Giordano Bruno e Kepler. Também sabemos que Leonardo Da Vinci havia realizado pesquisas com fisiologia humana, arquitetura e com projetos de engenharia.
Um dos temas pagãos mais recorrentes na filosofia do renascimento talvez tenha sido o resgate de um tipo de doutrina greco-latina conhecida pelo nome de Panteísmo. Pan era uma deidade greco-latina que corporificava os interesses da natureza; teísmo é a designação de uma doutrina de afirmação de uma divindade qualquer. Panteísmo quer dizer algo como Deus sendo a própria natureza; isto é, segundo o panteísmo, Deus e natureza se identificariam e poderiam ser explicados um pelo outro. Um dos defensores mais famosos da doutrina panteísta na renascença do pensamento foi Giordano Bruno, que atribuía às estrelas, assim como ao restante da natureza, a verdadeira corporificação de tudo o que era divino por essência. O Panteísmo de Giordano Bruno era tão blasfemo para a Igreja que este filósofo italiano foi julgado pelo tribunal da Inquisição e, por fim, condenado à morte na fogueira por suas observações astronômicas que iam de encontro aos dogmas católicos.
Logo após a morte de Giordano Bruno na fogueira, foi a vez de Galileu Galilei, outro importante pensador e observador das estrelas, ser julgado pelo tribunal da inquisição. Oficialmente, foi a Galileu atribuída a invenção da luneta. Com este instrumento óptico, realizou várias observações que não referendavam a astronomia aceita oficialmente. Nesta época, havia duas teorias acerca de como a Terra, o Sol, a Lua e as estrelas se comportavam no espaço. Segundo a teoria oficial, a de Pitolomeu, que ainda datava do período antigo, a Terra se encontrava imóvel no centro do universo, enquanto todos os outros astros giravam em torno dela, presos às famosas esferas de cristal.
Havia, também, a teoria não oficial, a de Copérnico, segundo a qual era a Terra que se punha a girar em torno do Sol, sendo ela apenas mais um entre tantos planetas perdidos num universo ilimitado. A teoria pitolomaica estava muito mais de acordo com a crença de que Deus havia criado o mundo e, sendo ela a sua principal criação, juntamente com a do homem, nada mais justo que colocá-los num lugar privilegiado para a sua observação e deleite pessoal.
A teoria copernicana praticamente deixava o homem órfão de um criador ou, no mínimo, o encarava como uma criação de menor importância. Assim, o Homem, literalmente, deixava de ocupar o centro do universo e, metaforicamente, deixava de ocupar o centro da atenção divina.
A aceitação da astronomia copernicana nos leva a dois pontos básicos a respeito da totalidade do pensamento renascentista: o primeiro ponto é a recusa de explicações fenomenológicas baseadas nos dogmas da Igreja ou de explicações que existissem simplesmente para referendar estes dogmas; começava a nascer o pensamento de que a natureza pedia um tipo de explicação mais de acordo com os anseios experimentais humanos. O segundo ponto é a afirmação do Homem como o eixo em torno do qual devem girar as preocupações intelectuais e artísticas. Assim, ao se deslocar o homem do centro do universo para a sua periferia, metaforicamente o deixamos órfãos de um Deus que não o observa mais e, ao mesmo tempo, livre para começar a caminhar por suas próprias pernas, sem o peso de uma condenação divina.
Claramente percebemos os motivos, ainda que não o aceitemos, para a igreja ter queimado Bruno e se empenhado na condenação de Galileu ao mesmo destino. Porém, astutamente, Galileu preferiu pedir desculpas, se retratar perante a Igreja e retirar as suas afirmações que iam ao encontro das afirmações de Bruno. Deste modo, ele salvou sua vida, mas não deixou de pensar livremente como um verdadeiro homem da renascença. Assim, Galileu é, até hoje, referência para a Mecânica moderna, pois foi dele uma das primeiras teorias modernas acerca do movimento dos corpos.
1- Naturalmente, e também por força das ideologias teológicas dominantes, tendemos a encarar Deus antropomorficamente; ou seja, tendemos a imaginá-lo na forma de uma pessoa, na maior parte do tempo, adulta e do sexo masculino. Podemos considerar esta idéia de Deus como uma supervalorização da figura humana? Explique.
2- Você está de acordo com a idéia de restringir a liberdade de reflexão e de expressão do pensamento em troca da sobrevivência de um tipo de fé, de religião, de crença? Tente explicar sua resposta.
3- Se vivesse na época da Santa Inquisição e estivesse sendo julgado, como agiria? Confirmaria suas descobertas e iria para a fogueira ou as negaria para salvar a vida? Justifique.
4- Que tal pesquisar mais sobre a vida de Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Giordano Bruno e Kepler?
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