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domingo, 30 de maio de 2010

O que nos difere dos demais seres vivos...?

A razão é, dos atributos humanos, o mais importante. Talvez seja ela a característica que o coloque numa posição distinta da dos demais mamíferos e de outros seres vivos. Porém, quando perguntamos diretamente o que queremos dizer com a palavra “Razão”, é com certo embaraço que nos vemos diante de uma resposta pronta, quase sem significado, como esta que acabamos de o ferecer acima. Esta resposta é utilizada, no mais das vezes, para reafirmar a posição de domínio dos seres humanos em relação às outras espécies viventes. Contudo o domínio humano sobre o restante do planeta não se identifica automaticamente com a Razão em sentido estrito. Talvez, então, seja melhor evitar, por enquanto, responder à pergunta “O que é Razão?” com este tipo de resposta já um tanto desgastada.

Muitas vezes usamos “Razão” num sentido menos ambicioso, como sinônimo de causa ou motivo, como quando perguntamos: Qual foi a razão para o assassinato? Mas, também, utilizamos esta palavra para designar um estado de sanidade mental quando, por exemplo, dizemos “fulano ou sicrano está de posse de sua Razão”. Ou quando queremos concordar com alguém a respeito de alguma coisa, então dizemos: “Você está com a razão”, como que querendo dizer que esta pessoa está dizendo a verdade, que ela está certa ou mesmo que se mostra sensata acerca de um determinado assunto. Há aqueles que opõem a Razão às emoções, dividindo o Sujeito em duas metades: uma que detém a capacidade de julgar segundo regras estabelecidas previamente e outra que obedece a impulsos momentâneos de origem fisiológica ou emocional.

A Razão, em um sentido mais coloquial, portanto, pode ser ora algo que conduz a decisões e atitudes racionais, ora um controle sobre as emoções, ora a sapiência ou a sensatez. Nestes significados mais fracos, Razão é algo imaterial, habitando o espírito de cada um de maneira positiva. Em todos eles percebemos que a pessoa que se vê sem a Razão está numa posição inferior, desprivilegiada, em contraste com aquela que está de posse da Razão, vendo-se numa posição superior à primeira. Seja verdadeira ou não, a idéia que temos de Razão é esta, de algo que nos coloca em situação vantajosa ou positiva.

Talvez o significado mais difundido dentro da filosofia seja o da Razão como capacidade de coordenar os pensamentos, condicionando-os a regras precisas, com o fim de buscar a realidade do mundo por meio de expressões diversas sobre ele. Razão, neste sentido mais filosófico, aproxima-se de Entendimento. Este, por sua vez, marca o estado único do Sujeito enquanto articulador do pensamento em oposição à sensibilidade pura. Isto é, o Entendimento está no âmbito do exclusivamente intelectual, não podendo ser confundido com as habilidades físico-motoras da percepção e da ação. Seu objeto de trabalho são unicamente as Idéias.

Assim, por exemplo, o indivíduo de posse do Entendimento é capaz de divisar sua própria identidade por meio da percepção do outro. O que ele Sabe ser ele mesmo parte do princípio do que sua percepção lhe como aponta um objeto (o Outro) que ele reconhece como uma idéia negativa de si mesmo. Tudo o que o Entendimento faz é acondicionar e articular idéias para criar juízos sobre o mundo. Juízos complexos de identidade pessoal tais como: “Eu sou eu, porque não me reconheço naquilo que chamo de outro.” Ou juízos simples, do tipo “Esta meia é azul.” São construídos no processo do conhecimento, ao mesmo tempo em que são o próprio conhecimento manifesto. Na medida em que os juízos são articulados entre si aumenta o grau de complexidade, ao ponto de se poder criar teorias inteiras acerca do “Eu”, do “Outro”, ou de “Meias azuis”.

Estas teorias se reúnem em campos especializados do conhecimento humano, como são os campos da filosofia: a Estética, a Ética, a Epistemologia, a História da Filosofia, a Metafísica, a Lógica e outras tantas. Visto isto, talvez já nos sintamos mais à vontade para falar da Razão como uma faculdade exclusivamente humana. Mas não como algo que coloque o homem numa posição supostamente superior ao restante dos animais, mas sim como algo que possibilita uma produção intelectual única. É a Razão, na forma do Entendimento, que possibilita ao ser humano construir, planejar, desenvolver, verificar, prever, resolver e comunicar.

Todas estas possibilidades devem-se, cada uma a seu modo, à capacidade de abstrair. Ou seja, a capacidade de abstrair permite que as operações sejam todas realizadas no âmbito do entendimento puro. Assim, é possível criar modelos que são passíveis de fácil manipulação. O ato de abstrair é o ato de desmaterializar, é o ato de descorporificar o objeto ou o processo, transformando-os em idéias, em noções, em conceitos. Por estas vias chegamos ao ponto em que não podemos mais distinguir o processo do conhecimento efetuado pelo entendimento, por intermédio da abstração, com o próprio entendimento puro abstrato.

Este movimento é o Entendimento voltando-se sobre si mesmo, atingindo o grau máximo da desmaterialização do conhecimento. Quando o conhecimento já não necessita de outro objeto de estudo senão a si próprio. Quando a Razão se basta a si mesma.

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