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segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Filosofia Lógica...

Temos visto, no decorrer de nosso curso de Filosofia, que muitas questões ganharam a atenção de um bem grande número de pensadores durante toda a história da investigação racional. A filosofia tentou, por mais de 2000 mil anos, fornecer respostas simples na forma, mas complexas no significado. Contudo, uma queixa constante dos alunos de filosofia, senão dos próprios professores, é que, apesar de todo este esforço, de todo este trabalho filosófico no sentido de obter respostas satisfatórias às perguntas, pouco se parece conseguir ganhar de realmente definitivo com elas.

Muito nos leva a crer que esta também foi uma queixa premente na vida de Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Seu primeiro e mais polêmico trabalho, o “Tratactus Lógico-Philosophicus” (1921), surgiu numa tentativa de fornecer uma resposta definitiva a todo e qualquer problema sobre o qual a filosofia se debruçou durante a sua longa existência. Esta resposta definitiva, provavelmente, anunciaria um suposto fim da filosofia como campo de investigação racional especulativo. Ela deveria, a partir de então, portanto, ceder seu lugar às ciências e à Lógica-Matemática.

Na verdade, desde o aparecimento da corrente positivista no século XIX, a Filosofia já vinha perdendo terreno para as ciências ditas “Naturais” e “Exatas”. Contudo, mesmo debilitada, ela ainda se fazia presente na justificação de certas entidades metafísicas (as puras formas da metafísica). No início do século XX, porém, surgiu o movimento intitulado de Positivismo Lógico, configurado no famoso “Círculo de Viena”, do qual o próprio Wittgenstein era membro, e que se propunha a uma verdadeira revolução no pensamento por meio da redução da filosofia à lógica.

Como sabemos, a lógica é o instrumento utilizado pelo discurso racional para clarificar a postulação e a demonstração de certas afirmações, pensamentos e raciocínios. Para tanto, a lógica utiliza-se de regras, leis e princípios que foram primeiramente enunciados por Aristóteles e, posteriormente, foram sendo enriquecidos e transformados no que conhecemos hoje por “Lógica-Matemática”. Por meio de uma linguagem própria, a Linguagem Simbólica Formal, a Lógica objetiva ser mais pura do que a nossa linguagem do dia-a-dia e que chamamos de “Linguagem Natural”. Por trás deste objetivo se esconde o Ideal de que a Verdade existe de fato, se escondendo por trás de uma aparente complexidade. Esta complexidade aparente, no entanto, pode ser conhecida pela Razão, que se manifesta unicamente no Ser-Humano, e que desvenda os segredos da Natureza traduzindo-a em algo mais simples e racional. Transformar a complexidade aparente do mundo em algo mais simples e racional significa, para a lógica contemporânea, traduzi-la nas puras formas e nas relações simples da linguagem simbólica formal.

Um exemplo banal deste esforço da Lógica em traduzir o mundo em uma linguagem simbólica formal poderia ser a expressão: (PàS) significando qualquer situação no mundo em que dois eventos ocorrem e onde o primeiro (P) implica necessariamente o segundo (S), isto é, “Se P ocorre no mundo, então S também ocorre no mundo”. Substituindo as letras “P” e “S” por qualquer objeto do mundo teríamos a linguagem natural: Se trabalho, então me canso” ou “Se 2+2, então 4”. Indefinidamente poderíamos citar exemplos onde substituímos os símbolos P e S por objetos ou conceitos.

Mas por que fazer esta troca, aparentemente sem sentido, de objetos por símbolos? Por meio desta troca, a lógica quer se tornar Universal. Isto é, ela não quer ser um conhecimento sobre um determinado objeto específico como é a química, que estuda os elementos e as propriedades da matéria; ou como a biologia, que estuda a dinâmica da vida. A lógica quer ser capaz de poder abrigar qualquer conhecimento (a química, a biologia, a matemática, a engenharia, a computação, a filosofia etc). Em outras palavras, a lógica não é um conhecimento sobre algo no mundo, mas um conhecimento sobre a própria capacidade de conhecer, um conhecimento sobre o próprio conhecimento. Ela é, então, um “Meta-Conhecimento”.

A grosso modo, os Positivistas Lógicos consideraram que somente no campo da Lógica se poderia obter certezas necessárias e universais que, ainda que não pudessem traduzir o mundo do dia-a-dia, que é contingencial, poderiam apontar para um “como deveria ser” a ciência. Uma ciência tecnológica (para as
ciências naturais) ou uma ciência formalizada (para as ciências exatas).

Para o jovem Wittgenstein, este “Como deveria ser a ciência” poderia ser traduzido como um “Como não deveria ser a Filosofia”.

E o que significaria este “como não deveria ser a filosofia”? Significaria toda aquela filosofia que não pudesse ser traduzida numa linguagem simbólica for-mal. Ou seja, a filosofia deveria, a partir de então, trabalhar no sentido de expressar somente aquilo sobre o que se pode pensar e falar de maneira logicamente legítima; ou seja, ela não poderia mais incorrer em falhas e erros causados pelo desconhecimento da lógica. Em outras palavras, a Filosofia deveria se tornar Lógica.

A conclusão a que este filósofo austríaco chega no Tratactus é de que a maioria dos problemas filosóficos não existem de fato, pois saem das armadilhas naturais da linguagem comum: as ambigüidades e os sem sentidos.

Sua idéia é que, traduzida a linguagem natural num cálculo entre proposições (frases com valor de verdade: Falso ou Verdadeiro), estes pseudo-problemas filosóficos revelariam sua verdadeira natureza e, consequentemente, a ilusão em que a filosofia estava inserida em mais dois mil anos de investigação. Podemos tentar entender o objetivo do Tratactus como uma espécie de redução da linguagem comum a uma linguagem mais rigorosa, como uma especificação maior dos elementos que podem ser considerados representações válidas do mundo. A frase que encerra o Tratactus é deveras emblemática do pensamento do jovem Wittgenstein: “Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar.”

Na medida em que ele chega a esta conclusão, imagina ter resolvido a totalidade dos problemas da filosofia por meio da eliminação destes por uma redução da linguagem natural à linguagem formal. Porém, posteriormente, ele se convence de que os problemas filosóficos não tinham sido plenamente solucionados com o Tratactus e escreve sua outra grande e última obra, as “Investigações Filosóficas”. Nela ele reconhece o perigo da arrogância em se querer tudo solucionar.

Enquanto no Tratactus tudo se especificava por uma limitação da linguagem, nas Investigações Wittgenstein abre definitivamente o leque de possibilidades para a percepção da linguagem como um jogo extremamente rico, em que os significados importam e influenciam o pensamento. Enquanto no ratactus Wittgenstein retirou (abstraiu) a linguagem do contexto em que ela se inseria (a redução da linguagem natural para a formal), nas Investigações ele tratou de recolocá-la em seu devido lugar, reinserindo-a como parte fundamental e um intrincado jogo de linguagem que ocorre no mundo, dando sentido à vida e retirando dela sua validade.

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