Recapitulando, notamos que tudo começa com nossa capacidade de perceber o mundo, ver, escutar, ouvir, tocar, experimentar das diversas maneiras que estão ao nosso alcance. Então, comparamos tudo, separamos e memorizamos, descobrimos formas e padrões, comunicamos e selecionamos informação útil para o nosso convívio em comum. Depois, sentimos que também existe a necessidade de modificarmos as coisas, trocá-las de lugar, colocá-las de cabeça para baixo, bagunçar um pouco a ordem vigente para que uma nova ordem possa se estabelecer e, com ela, promessas de um mundo diferente.
É preciso deixar claro, porém, que tudo isto se passa num meio e que este meio é afetado por nossa existência, assim como por qualquer outra. Os filósofos gostam de criar modos de explicação que sejam bastante gerais, isto é, que sirvam para muitas situações e não somente para casos especiais. Desse modo, quando um filósofo, ou um cientista, fala em meio, ou em ambiente, eles estão querendo dizer algo que não signifique tão somente a natureza à nossa volta, assim como a entendemos comumente, mas tudo aquilo que possa reunir, dentro de si, elementos que se afetam mutuamente.
É como se pensássemos em uma caixa com dezenas de bolinhas dentro dela. Se a agitarmos, as bolinhas lá dentro baterão umas contra as outras. Neste caso, a caixa é o ambiente das bolinhas. Assim, o Meio, ou o Ambiente, pode ser de muitos tamanhos diferentes e agrupar seres bem distintos em diversas escalas de ordem.
O ambiente da formiga é certamente o formigueiro e alguns metros quadrados em volta dele. Também podemos ter ambientes dentro de outros ambientes; no caso do formigueiro, este pode estar em nosso quintal que é, por exemplo, o ambiente de nosso cachorro que lá faz os seus buracos, mas é, também, uma parte do nosso próprio ambiente, constituindo um ambiente maior, que é a nossa casa.
Nossa casa está numa rua, que esta num bairro, o bairro está dentro de uma cidade, que se localiza em um determinado estado, dentro de um país, que faz parte de um continente etc. Poderíamos ir expandindo os ambientes até regiões intergalácticas e por aí em diante.
Mas é importante notar que a formiga não sabe nada de bairros e cidades, assim como nós também não sabemos nada de regiões intergalácticas. É preciso definir o verdadeiro ambiente, portanto, como aquela região física na qual efetivamente entramos em contato com outros seres e elementos para garantir a nossa sobrevivência.
Cada um possui um ambiente que é, ao mesmo tempo, articular e público. Por exemplo, eu vou à escola e ao trabalho, mas nunca fui ao estádio de futebol. O meu chefe do trabalho muito raramente perde um jogo do seu time no estádio, mas nunca foi à minha escola. Quando nos encontramos no serviço, ele me fala sobre o jogo e eu lhe falo sobre o que entendi ou não dos livros. Às vezes, o seu time perde, e ele vai trabalhar mal humorado, o que complica um pouco as coisas para mim. Outras vezes, sou eu que peço para tirar umas horas de folga para poder estudar. Ele é obrigado, então, a fazer hora extra e deixa de ir ao estádio. Acontece que ele dá carona para seus amigos sempre que vai ao estádio. Seus colegas ficam sem a carona nesses dias de prova e, depois, tentam tirar satisfações com ele. A escola é afetada pelo jogo mesmo sem eu ir até o estádio; por sua vez, o jogo é afetado pela escola mesmo sem meu chefe estudar muito.
O que temos é que os ambientes podem ser compartilhados e exclusivos ao mesmo tempo. Isto acontece porque estes ambientes podem estar dentro de um ambiente maior e fora de um outro. Assim, a escola, o escritório e o estádio encontram-se na cidade do Rio de Janeiro, de modo que fazem parte do mesmo ambiente. Porém, todos os ambientes de outras cidades, como São Paulo, por exemplo, estarão fora desse Meio. No entanto, São Paulo e Rio de Janeiro estão dentro do país que conhecemos pelo nome de Brasil.
Ambientes e Meios também podem ser conhecidos pelo nome de Sistema. A palavra “Sistema” é empregada quando queremos deixar claro que existem complexas relações entre os elementos dentro do meio. Além disso, um Sistema não precisa ser, necessariamente, um espaço físico, como é um ambiente. Podemos ter o “Sistema Financeiro”, formado por diversos bancos e clientes em muitos países, ou o “Sistema Judiciário”, formado por tribunais, ministérios, promotorias etc, ou os “Sistemas Ecológicos”, constituídos por nichos, habitats, climas, ciclos e assim por diante.
Nos sistemas ecológicos, ou ecosistemas, encontramos diversos ambientes cujos elementos encontram-se num alto grau de interconexão. Deste modo, insetos, bactérias, aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e muitos outros seres coabitam em ambientes que são exclusivos e compartilhados a um só tempo, travando relações extremamente complexas.
Com o passar do tempo, notamos que a soma de todas essas complexas relações geram uma espécie de equilíbrio que aprendemos a denominar Equilíbrio Ecológico.Isto é, essas relações geram padrões mais ou menos estáveis, ou seja, formas ambientais que mudam de maneira lenta e gradual, de modo que seus elementos têm tempo para se adaptar a essas mudanças. Vemos, por exemplo, que muitos ratos, cobras, lagartos e insetos aprenderam a viver em desertos extrema-mente secos. Para isto acontecer precisaram de alguns milhares de anos de lenta evolução.
Como dissemos no começo desta aula, todos os seres afetam o meio em que vivem. Até meados do século XIX o ser humano vinha, há muito, afetando o ambiente sem maiores prejuízos para ele. Seu custo para o ambiente era baixo. Contudo, desde então, a nossa interação com o meio acelerou muito o seu ritmo, de modo que nosso custo para o sistema ecológico já não está mais sendo coberto por ele.
Máquinas à carvão, à óleo, à gasolina, bombas atômicas, usinas nucleares, lixos tóxicos e domésticos, esgotos em rios e mananciais, derrubada de florestas para agricultura e pecuária, minerações, derramamento de petróleo no mar, caçadas de animais em grande e pequena escala. Tudo isto tem desequilibrado muito o ecosistema. De tal forma que, uma vez que todos os elementos, dentro dele, se relacionam de maneira muitas vezes desconhecidas por nós, é impossível saber ao certo as verdadeiras conseqüências do que já fizemos até os dias de hoje.
O que sabemos verdadeiramente é que, uma vez destruído o ambiente em que vivemos, só nos restam duas saídas:
1ª) sair dele, ou
2ª) perecer com ele.
Uma vez que o ambiente em questão, ao final das análises, é compartilhado por todos sem exceção, sendo um único e o mesmo (a Terra) - e na medida em que as galáxias mais distantes vão continuar por muito tempo nessa condição –nos sobra apenas a segunda e a mais aterradora das opções.
Sistema ameaçado
Além da poluição atmosférica, nossa saúde também é ameaçada pela água e pelos alimentos, uma e outros contaminados por uma grande variedade de produtos químicos tóxicos. Nos Estados Unidos, aditivos alimentares sintéticos, pesticidas, agrotóxicos, plásticos e outros produtos químicos são comercializados numa proporção atualmente avaliada em mais de mil novos compostos químicos por ano. Assim, o envenenamento químico passa a fazer parte, cada vez mais, de nossa vida. Além disso, as ameaças à nossa saúde através da poluição do ar, da água e dos alimentos constituem meros efeitos diretos e óbvios da tecnologia humana sobre o meio ambiente natural. Efeitos menos óbvios, mas possivelmente muitíssimo mais perigosos, só recentemente foram reconhecidos, e ainda não foram compreendidos em toda a sua extensão. Contudo, tornou-se claro que nossa tecnologia está perturbando seriamente e pode até estar destruindo os sistemas ecológicos de que depende nossa existência.
(Fritjof Capra, O ponto de mutação).
DEPÓSITO DE LIXO
30 bilhões de toneladas de lixo são despejadas anual mente no meio ambiente. São produzidos por ano 80 milhões de toneladas de plástico, material que não se decompõe na natureza. Há cinqüenta anos não chegava a 5 milhões de toneladas. Só o Brasil tem 100 milhões de pneus abandonados.
Crise Ecológica
Um breve olhar sobre o que poderia significar uma educação ambiental parece ser interessante para compreender um pouco melhor nosso momento histórico. O próprio predicado ambiental é esclarecedor e revela inúmeros problemas e constrangimentos conceituais. Como decorrência dessa predicação, uma das principais coisas que nos vêem à mente é que, se existe uma educação que é ambiental , deve existir, também, uma educação não-ambiental em relação à qual a educação ambiental poderia fazer referência e alcançar a sua legitimidade. Ora, isto é, no mínimo, muito estranho. Por que isso ocorre?
Como podemos ter uma educação não-ambiental se desde o dia de nosso nascimento até o dia de nossa morte vivemos em um ambiente? (...) Compreendi a própria necessidade de adicionar o predicado ambiental à educação. A educação ambiental surge, hoje, como uma necessidade quase inquestionável pelo simples fato de que não existe um ambiente na educação moderna. Tudo se passa como fôssemos educados e educássemos fora de um ambiente. (...) A adição do predicado ambiental que a educação se vê agora forçada a fazer explicita uma crise da cultura ocidental. A educação ambiental é, a meu ver, antes de mais nada, um sintoma desta crise. De um modo bastante geral e difuso, essa crise vem sendo abordada em vários campos do conhecimento e tem recebido o nome genérico de ‘crise ecológica’.
(Mauro Grün, Ética e Educação Ambiental).
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