Á informação, como já dissemos, é a condição de possibilidade da comunicação e, portanto, a matéria-prima do conhecimento. Já vimos como ela se coloca a meio caminho entre o totalmente distinto e o idêntico, como ela necessita de padrões mais ou menos consolidados para ser absorvida e, também, como ela se torna dependente dos sujeitos criativos, que são capazes de perceber, numa certa desordem, uma nova organização emergente que desloca objetos, pessoas e idéias.
Mas qual é, afinal, o meio ambiente da informação? Ela estaria apenas em nossas mentes ou se encontraria efetivamente no mundo que rodeia o sujeito que quer absorvê-la? Uma resposta definitiva a esta pergunta não é fácil. Mas podemos tentar pequenas respostas parciais que nos dêem algumas dicas. Sabemos que o conhecimento é algo bastante íntimo. Muitas vezes, sabemos algo e sentimos uma tremenda necessidade de contar para alguém, mesmo que essa pessoa não esteja interessada. Outras vezes, falamos com nossos próprios botões a respeito de um vizinho, de algo que se viu na televisão ou na escola. Por que fazemos isso se não há ninguém escutando? Não seria suficiente apenas pensar? A resposta é não.
Percebemos as coisas a nossa volta, como a chuva, por exemplo, ou observando-a cair ou sentindo-a molhar o nosso cabelo ou ouvindo os pingos que caem no chão quando estamos prestes a dormir em nossas camas. Um pensa- mento um pouco indefinido sobre todas estas percepções nos vêm à mente, mas isto não é o conhecimento final do evento Chuva. Então dizemos: “Está chovendo”, deste jeito consolidamos o fato de que chove lá fora.
Quando bebês, aprendemos a falar antes de consolidarmos nossas complexas teorias sobre a Lua, ou sobre o palhaço pendurado no alto do berço. Dizemos “Ága” (água), “Páa” (pai) ou “Mãa” (mãe), então um líquido que sacia a sede aparece, ou dois seres gigantes nos protegem e nos alimentam. Sentimos que existe algo de mágico nestas palavras. E todas elas começam com o som indefinido do choro. Depois, ampliamos um pouco mais nosso vocabulário com as palavras “Xixi”, “Auau” etc, e percebemos que elas variam muito pouco de pessoa para pessoa. Descobrimos que elas podem ser usadas como veículos daquelas coisas que nos acompanham desde muito cedo, a saber, os nossos desejos e frustrações.
Deste jeito, começamos exprimindo o desconforto da fome e do frio e acabamos discorrendo longamente acerca da condição humana. Houve alguma grande mudança em nossos seres daquele primeiro momento até este último? De fato, não muita. Houve um grande aumento na complexidade no uso dos signos que chamamos de palavras, também houve um aumento na capacidade de memorizá-las, assim como os seus significados que são, às vezes, bastante longos. No entanto, o desconforto da fome e do frio continuaram a ser expressos por meio desses signos, mesmo que de maneiras um tanto diferentes.
Portanto, começamos a nos expressar para tentar alterar as condições ambientais que nos rodeiam, de modo a torná-las favoráveis ao nosso estado de espírito atual. Em seguida, percebemos que este estado de espírito se complexi esperou ficou. Começamos a sentir raiva, amor, tédio, preguiça, angústia, pânico etc. Em alguns momentos, sentimos que as palavras não são suficientes, ou por demais lentas, para exprimir estas idéias e criamos outros símbolos que agilizam a absorção da informação ou a comunicação.
Estes símbolos, que também podemos chamar de ícones, garantem a transmissão de uma idéia uma vez que os sujeitos que os usam estejam familiarizados com o contexto em quem estejam inseridos. O contexto é o conjunto de pessoas, lugares, momentos e situações que fornecem conteúdo ou significado ao ícone (símbolo ou signo). Assim, por exemplo, para se entender o que diz uma placa do tipo: É preciso estar familiarizado, em primeiro lugar, com as regras de trânsito. Mas isto não é o suficiente, também é necessário que este ícone não apareça em lugares como em um beco sem saída ou em uma casinha de cachorro ou dentro de uma banheira.
Parte da resposta que queríamos já se anuncia. A informação é fruto de nossa capacidade de contextualizar os diferentes ícones que nos rodeiam, inserindo-os nos ambientes em que cada um deles faz sentido. O sentido de cada símbolo, a informação que ele sugere, depende da quantidade de informações prévias que o sujeito obteve em toda a sua vida. Provavelmente, quanto maior for a vida do sujeito, ou quanto maior for o número de suas experiências, também maior será sua capacidade de perceber sentidos, significados, conteúdos, também maior será sua capacidade de absorver mais informação e de se comunicar melhor.
Mas a informação está dentro ou fora de nós? Ela brota fora do sujeito, impregnando o ícone com uma porção de idéias? Vamos imaginar que o ícone é como uma ratoeira armada, toda a tensão da mola está prestes a disparar, mas a ratoeira não dispara sozinha. Quando um pequeno rato desavisado cheira o queijo e abocanha a refeição “grátis”, então é aí que a força armazenada pela mola avisa que aquela comida era mais cara do que pensava o pobre ratinho.
Igualmente, a placa de trânsito, ou a de ‘paz e amor’, ou a da ‘pomba da paz’, ou a das ‘olimpíadas’ não funcionam sem um sujeito que a observe. Contudo, toda a idéia está lá em potência, armazenada, esperando. Como a mola complexi-esperou nosso rato. O sujeito se aproxima e a observa. O sujeito é o rato. Ele ‘mexe no queijo’ quando associa a placa a muitos outros momentos, pessoas e situações em sua memória, quando ele a contextualiza. Se ele tiver ‘força’ (experiências o suficiente) para ‘mexer o queijo’, então a placa ‘dispara’ (faz sentido, é informativa).
Como se vê, parte da informação deve estar do lado de fora do sujeito, em potência, nos diversos signos que se espalham pelo mundo. Mas a informação só aparece de fato quando alguém interpreta estes signos e lhes confere significado. Então, parte dela também deve estar na capacidade de memorizar, na de perceber e na de associar. Todas estas habilidades são inerentes ao sujeito e não as encontramos por aí espalhadas pelo chão. Algumas vezes, os ícones são como ordens, como as placas de trânsito; outras vezes, são como idéias, como a cruz para os cristãos, a estrela de Davi para os judeus. Em alguns momentos, os ícones representam nações como as bandeiras dos países. Mas também podem apontar comportamentos como os de James Dean ou de Elvis Presley. Também podem indicar ideais de beleza, como as modelos nas passarelas. Há muitas formas e funções diferentes para os ícones, mas nossa maneira de os interpretar obedece sempre o mesmo padrão, a saber, o de observação e o de contextualização.
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O carneiro do pequeno príncipe
(...) Preciso de um carneiro. Desenha-me um carneiro.
Então eu desenhei.
Olhou atentamente e disse:
— Não! Esse já está muito doente.
Desenha outro.
Desenhei de novo.
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Meu amigo sorriu com indulgência:
— Bem se vê que isto não é um carneiro. É um bode...
Olha os chifres...
Fiz mais uma vez o desenho.
Mas ele foi recusado como os precedentes:
— Este aí é muito velho. Quero um carneiro que viva muito.
Então, perdendo a paciência, como tinha pressa de desmontar o motor, rabisquei o desenho ao lado.
E arrisquei:
— Esta é a caixa. O carneiro está dentro.
Mas fiquei surpreso de ver iluminar-se a face do meu pequeno juiz:
— Era assim mesmo que eu queria! Será preciso muito capim para esse carneiro?
— Por quê?
— Porque é muito pequeno onde eu moro...
— Qualquer coisa chega. Eu te dei um carneirinho de nada!
Inclinou a cabeça sobre o desenho:
— Não é tão pequeno assim... Olha! Adormeceu... (...)
(Antoine de Saint-Exupéry, O pequeno príncipe).
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