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sábado, 26 de junho de 2010

Kant e o Entendimento...

Após receber as diversas percepções que o sujeito obtém, graças às condições à priori, ou puras, da sensibilidade em geral (o Espaço e o Tempo), estas percepções são enviadas para a estrutura do Entendimento. Assim como a sensibilidade possui essas duas condições à priori, já estudadas, também o entendimento irá possuir uma estrutura interna (uma sub-estrutura), que igualmente existe à priori no sujeito comum, encarregada de receber as diversas percepções sensíveis e organizá-las segundo certos critérios. Enquanto a Sensibilidade em geral fornece as condições para as percepções, o Entendimento em geral as classifica segundo suas qualidades, universalidade, particularidades, causalidades, finalidades etc.

Com a organização propiciada pelo Entendimento, o sujeito se vê em condições de criar abstrações acerca das diversas observações particulares propiciadas pela percepção. Estas abstrações são os chamados conceitos, ou Idéias, que não se referem a nenhum objeto particular. É graças a essa capacidade de criar generalizações, de poder trabalhar com conceitos puros, que o homem se vê livre das condições ambientais particulares que o cercam. Ele consegue falar do Tempo em geral e não apenas da hora que passou, ele consegue falar do Espaço em geral e não apenas do lugar que seu corpo ocupa num dado momento. É graças ao conceito que o homem articula intelectualmente as percepções, de modo a criar relações entre elas, como relações de causalidade, de quantidade, de qualidade.

Também neste caso percebemos que os conceitos não estão no mundo, mas numa capacidade intelectual do sujeito, nas estruturas internas do seu Entendimento. A estrutura do Entendimento, assim como a da Sensibilidade, precisa do ‘Sujeito em geral’ para existir, no entanto ela existe antes (de maneira à priori) no ‘sujeito particular’. É graças à capacidade do Entendimento, por exemplo, que podemos pensar no Átomo, ainda que nunca tenhamos tido a oportunidade de ver um. Também é graças ao Entendimento que somos capazes de imaginar as grandes distâncias que separam as estrelas no céu, ainda que à primeira vista elas pareçam estar separadas entre si por apenas alguns poucos centímetros.

A articulação entre a estrutura da Sensibilidade e a do Entendimento é fornecida pela Razão Pura; juntas, as três estruturas produzem um conhecimento geral ou particular. Separadas, perdem todo o sentido funcional e se tornam absolutamente inoperantes. O que é importante de ser ressaltado na filosofia kantiana é que todo o conhecimento é, na verdade, o resultado da capacidade de julgar. Para realizarmos julgamentos sobre as diversas situações do mundo, é necessária a criação e a articulação de juízos. Por sua vez, os juízos são afirmações declarativas a respeito de um dado evento, fenômeno ou situação. Por exemplo: “Julgo que o resultado da soma de 1 e 1 seja 2”; “Julgo que eu esteja doente”; “Julgo que o céu é azul”; “Julgo que aquele homem seja o assassino”; “Julgo que eles sejam amantes e que se encontram na calada da noite para que ninguém os perceba e, assim, permaneçam no protetor silêncio do anonimato”; e assim por diante.

Neste sentido, vale a pena lembrar a distinção entre à priori e à posteriori que, no âmbito do discurso, aparecem nas formas respectivas: juízo analítico e juízo sintético. Os juízos analíticos são proposições que não necessitam, por assim dizer, de qualquer comprovação empírica. Portanto, todos os juízos analíticos são à priori, ou seja, são a expressão de uma verdade óbvia ou irrefutável que se mostra pela linguagem. Por exemplo: “Aquela mulher é do sexo feminino” ou “O resultado da soma dos ângulos internos de qualquer tri-ângulo é sempre 180º”. Como se vê, não é necessário, se tomarmos apenas o que é dito nas afirmações acima, realizar uma experiência qualquer para nos certificarmos das respectivas verdades internas destas afirmações. Por sua vez, os juízos sintéticos são naturalmente à posteriori, na medida em que são expressões cuja verdade necessitam de uma confirmação por meio da experiência. Nos juízos sintéticos, as verdades das declarações não decorrem naturalmente como nos juízos analíticos.

Assim, quando nos referimos às verdades universais e necessárias da matemática, da geometria, da lógica, utilizamos os juízos analíticos que, por sua qualidade mesma (universalidade e necessidade), se dão a este fim. No entanto, quando nos referimos aos eventos corriqueiros do mundo, às experiências e às sensações particulares, invariavelmente fazemos uso de juízos sintéticos que, por serem à posteriori, apresentam uma situação cuja verdade pressupõe a verificação. Este é o campo das ciências naturais como a Física, a Biologia, a Química etc, cujas afirmações aparecem na forma de juízos sintéticos.

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