Francis Bacon (1561-1626) é o fundador de uma das mais influentes escolas filosóficas do período moderno, o Empirismo. Assim como Descartes, Bacon também se interessava pelas questões que envolviam uma profunda investigação sobre as capacidades humanas de conhecer. No entanto, para Bacon, esta atividade especialmente humana, que é a de se indagar sobre as fronteiras do conhecimento, tem um fim bastante preciso. Para ele necessitamos conhecer o que nos rodeia, a Natureza, para a dominar e retirar dela os seus frutos. Este filósofo parte do princípio de que o mundo é composto por partículas materiais que variam apenas na posição e no tamanho. Estas partículas, assim como acreditavam os filósofos atomistas, se unem na composição da matéria.
Ao contrário de Descartes, portanto, Bacon irá fundamentar o seu Método filosófico naquilo que ele considera a essência da Natureza, a phisis. Enquanto Descartes procurava esta essência no puro cálculo lógico-matemático, Bacon irá procurá-la exatamente nas possíveis ligações que ocorrem entre os corpos, na matéria, nos objetos, na phisis. De modo que, para este filósofo inglês, não existe outra possibilidade de conhecimento senão aquela baseada nas experiências que podemos realizar sobre a matéria. Assim, o nosso corpo, por meio dos sentidos, é a porta de entrada das diversas sensações; estas sensações se encarregam de trazer para a nossa mente as informações necessárias para o início do processo do conhecimento.
Para os empiristas nascemos sem conhecimento algum. Somos como folhas de papel onde ainda nada fora escrito. Na medida em que começamos a viver e a experimentar as diversas sensações que obtemos por meio dos nossos corpos, estas vão preenchendo os imensos espaços vazios de nosso espírito. Assim, nosso conhecimento existe na exata proporção das realizações e feitos de nossos corpos no dia-a-dia, ao observarmos as folhas que caem das árvores no outono, ao sentirmos o frio da água no inverno, ao caminharmos sob o sol escaldante do verão, ao ouvirmos o barulho do vento nas copas das árvores, ao sentirmos a suave maciez do algodão, ao notarmos o cheiro agradável das rosas, ou quando nos deliciamos com o gosto da pêra e do vinho. São estas as formas realmente válidas de conhecer o mundo.
Mas não somos apenas como grandes latas que se enchem paulatinamente com percepções diversas. A razão irá trabalhar para reunir estas percepções, que são conjuntos ordenados de sensações, em tipos definidos de associações. Assim, a razão articula as percepções recebidas pelos sentidos, dando forma ao pensamento. Por exemplo, se pensarmos de olhos fechados na palavra “cachorro”, que tipo de imagem virá em nossa mente? Será que iremos visualizar mentalmente o símbolo gráfico “CACHORRO”? ou será que pensaremos no cachorro de nosso vizinho? ou no nosso próprio cachorro? Para os empiristas, o nosso conhecimento é fruto dessas experiências sensoriais que se associam por força da repetição.
O primeiro tipo de associação assinalada pelos empiristas ingleses é o da sucessão temporal. Assim associamos duas experiências, ou idéias, quando as percepções que temos delas ocorrem uma após a outra.
Exemplo: Evento A: Eu coloco a mão no fogo.
Evento B: Eu queimo a mão.
Crio, então, uma associação entre os eventos A e B e chego à seguinte antecipação intelectual: “Se eu colocar a mão no fogo, eu me queimo”. Esta associação por sucessão temporal cria a antecipação intelectual que possui o modelo geral: o Evento A causa o Evento B. Também posso chegar a conclusões do seguinte tipo: se existe o evento B, pode ser que antes tenha existido o evento A. Como podemos notar, neste caso há a necessidade de uma ordenação temporal entre os eventos A e B, que ocorrem como elos numa corrente.
Mas a razão também cria associações pela repetição da aparição de eventos semelhantes. Por exemplo, quando vejo dois homens andando a cavalo, ainda que seus movimentos não sejam idênticos entre si, eu percebo semelhanças e padrões que associo ao evento “Andar a cavalo”.
Exemplo: Evento A: Vejo um homem andando a cavalo.
Evento B: Vejo uma mulher andando a cavalo.
Ainda que eu não possa dizer que os eventos A e B sejam idênticos, eu crio uma associação inevitável entre eles, dadas as muitas semelhanças existentes. O meu entendimento irá trabalhar no sentido de articular um pensamento do tipo: “Para se andar a cavalo não importa muito qual seja o sexo da pessoa”, ou ainda, “ Se um homem pode andar a cavalo, então uma mulher também pode”.
Mas ainda há um terceiro tipo de associação que os eventos inspiram, é a associação por proximidade ou contigüidade física. Ou seja, se noto que um evento ocorre na proximidade ou contiguamente a um outro, eu gero uma ligação natural entre ambos. Este é o caso, por exemplo, do instrumento musical e aquele que o toca. Não há nenhuma semelhança entre ambos, suas existências também não se encadeiam no tempo necessariamente, mesmo assim eu crio um indissociável elo entre estas duas idéias, ou percepções, ou eventos, dada a proximidade física entre eles.
Exemplo: Evento A: Noto a existência de um instrumento musical.
Evento B: Noto que, nas vezes que este instrumento é manuseado por um determinado indivíduo, escuto uma bela música.
Mesmo que eu não reflita sobre estes dois eventos, a proximidade física entre ambos faz com que eu crie pensamentos diversos sobre a possibilidade de ouvir uma boa música ou sobre que tipo de som pode advir daquele instrumento etc. Provavelmente, a associação por repetição da proximidade me faça criar um pensamento do tipo: “Lá está o instrumento. Mas onde estará o músico?” ou este “Lá está fulano que toca determinado instrumento.”
Por estas três vias associativas os pensamentos ganham forma, mas estas associações ocorrem na medida em que posso experimentar as sensações. De modo que o conhecimento humano, para os empiristas, não é somente o uso exclusivo da Razão, assim como pretendia Descartes com o seu racionalismo. Para os empiristas, é necessário que as sensações ocorram e com elas se criem associações pelas vias do entendimento.
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